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sábado, 26 de novembro de 2011

AINDA SOMOS OS MESMOS

Em tempos não muito distantes, ancorado ao balcão de boteco um tipo matuto tomava cachaça, de súbito entra um bacuri meio barrigudinho que puxa-lhe a perna de calças, engoliu a cachaça numa talagada só e fitou a criança, que disse: Papai quero um doce, aquele ali.
- Pra que cê que doce, doce istraga us denti menino sua mãe não ti insinou isso não? Vai brinca lá fora, buteco não e luga de criança. A criança insistiu: Papai mamãe disse que muito doce istraga us denti sim, mais que um só de veiz im quando, não faiz mau, não. Em tom áspero retrucou o matuto: Já falei pra ocê sai daqui, sua mãe não sabe o que fala seu mau inducado. Da um dolorido cascudo na criança, que ao sair porta a fora com os olhos lacrimejantes cumprimenta outro tipo que acaba de chegar. Bênça padin. Correndo para fora, senta em um toco a porta do boteco soluçante a resmungar sozinho.
- Tarde cumpadre! Bebendo por conta, já intrego a coieta, né?
- Intreguei mais us homi da maquina inda não pago, to bebendo por conta de uns caraminguás que o cumpadre Círço me deu pra paga o acero que fiz pra ele lá na beira da capuera. Vim só compra uma lingüiça pra armoçar aminhã, é domingo, né?! E as galinha lá de casa tão revortada com galo, num tão botano nada. Alias, Juvena corta uns dez gomo dessa mineira ai, vô manda o meleque leva pra veia já ir ajeitano a janta, e também pra ele sai daqui, sabe comé, senão vai fica aqui me apurrinhano.
Já de posse do embrulho ralha com a criança: Vem cá muleque, leva pra sua mãe fala pra ela frita uns três desse que já, já to chegano pra come, to com uma fome de leão essa branquinha me abriu o apetite, e vê se vai dormir, quano chega lá quero te vê no ninho.
- Ô cumpade toma uma comigo, ô Juvena bota outra pra mim, passa a régua e uma aqui pro cumpadre, só que a dele é queimadinha pó passa a régua também hoje é por minha conta que tenhu sobrano.
Queimada é cachaça misturada com algum outro tipo de bebida escura, conhaque, jurubeba, fernete, etc...
A cachaça que ele estava tomando, nos valores de hoje custaria em media de cinqüenta centavos a um real, ele já tinha tomado umas três, a do compadre por volta de um a um real e cinqüenta centavos. O doce que a criança queria custaria por volta de sessenta centavos.
- Bota um tubo no picuá que vou levar pra toma aminhã.
Outro dia eu vi um cidadão em um supermercado acompanhado de uma criança de uns dez anos, no carrinho o trivial, talvez o equivalente a uma cesta básica, mais uns três pacotes de cervejas em lata e uma garrafa de vodka. A criança com um pacote de fandagos nas mãos disse: Papai compra pra mim? – Larga isso ai menino, isso faz mal, tem gordura trans. Confesso que ficar perplexo foi inevitável, é certo que a justificativa procede, mas como justifica então as três caixas de cervejas e a garrafa de vodka?
  
Hannaell Mendes
26/11/2011 – 00h35min

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

JAZ

Não sejas leviano com sigo mesmo.
Não tente me ludibriar.
Não sou subserviente o quanto pensa.
Posso parecer cego,
mas vejo e sinto tudo que acontece a minha volta.
Não sou nenhum tolo apenas vou te dar corda.
Suas ações malfazejas serão nossos segredos,
as coisas boas que fizeres eu revelarei, mas saiba,
apenas eu serei tão generoso.
E quando tiveres arrochado o laço que te envolve o pescosso,
e não tiveres mais ar para respirar,
por ti deixarei cair uma lagrima.
E em tua lapide escreverei “Aqui jaz...”
Não revelarei teus segredos,
pois minha boca é mais celada que o tumulo que te aconchegara.
Mas o tempo e vento seras contigo implacavel,
toda areia sera levantada, e sua carcaça ficara exposta,
para vergonha daqueles que te amaram.
Apenas eu continuarei te amando...
Recolherei os teus restos,
plantarei novamente em solo fertil e,
regarei com minhas lagrimas,
pelos dias que me restarem...



Hannaell Mendes
25/11/2011 – 13h50min

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

PRETÉRITO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO!

Um anjo negro desceu do ceu montado num cavalo de fogo e uma espada nas mãos. Desceram la na montanha numa grande esplosão, levantando extensa cortina de fumaça, causando uma enorme erosão.
Embrenharam-se na mata!
Enquanto caminhava pela floresta arrastando sua espada o anjo malvado retalhava seu coração, a espada flamejante queimava as folhagem pelo chão. O seu cavalo em chamas sugava as aguas do ribeirão...
Foi uma puta confusão...
As arvores queimaram todas, viraram carvão.
Os indios gritando, correndo pelados com suas tangas nas mãos.
Foi um sururu dos diabos, as forças armadas foram chamadas, chamaram também o bope, mas eles não puderam ajudar estavam instando uma nova UPP na favela da rocinha. A Dilma ficou puta com a situação, demitiu seis ministros acusados de corrupção (so de vinganca são todos inocentes). O sarney ficou indignado e começou a gritar – assim não pode, assim não da, po, Lula – Para de me imitar. Caramba essa porra apagou de novo, Fernandinho, Fernadinhooooo, passa os fosforos. O bicho lerdo so empata. Palmeiiiiiras, sem libertadores, o São Paulo também. E o ano que vem tem eleições para Prefeitos e “Deputados” municipais, salve gente boa, é nois mano.
Que legal, viva a arte e cultura do nosso Brasil, esse caras sabem...
Eu voto, tu votas, ..., eles... PRETÉRITO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO!



Hannaell Mendes
17/11/2011 – 13h30min

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Apenas isso!

Não importa por qual lado vai lutar (o bem ou o mal),
as dores, os sofrimentos que causar,
as lagrimas, o sangue que jorrar,
vai manchar suas vestes, impregnar na sua pele,
inundar sua carne, invadir suas veias,
e seras condenado para sempre.
Fui recrutado por ambos os lados,
e a causa sempre foi justa,
segurei firme minha espada nas mãos.
Para promover a paz, participei da guerra,
para dar a alegria, provoquei a dor.
para salvar vidas, ceifei vidas.
Hoje a dor é so minha,
os sofrimentos são somente os meus,
as lagrimas são apenas as minhas,
o sangue, o sangue,
que corre em minhas veias,
alimenta meu corpo, não é puro,
não é so meu, esta imprignado com o sangue das dores,
dos sofrimentos, das lagrimas, o sangue das guerras.
É este sangue condenado que ainda me faz pulsar no peito,
um coração revolto e magoado,
latejando dentro de uma vida vegetil...

Hoje sou apenas isso!


Hannaell Mendes
16/11/2011 - 14h11min

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

É foda!

Certa vez enquanto João caminhava por um trilho estreito, cheio de pedras, espinhos e lama, vomitando suas angustias, recitando versos de camões, augustos dos anjos, clarice lispector e nelson rodrigues, vertendo rios de lágrima e solucos em trovoadas, ao topar com o dedo menor de seu pé esquerdo em uma pedra desequilobrou-se e caiu, apoiando uma das mãos sobre um pontiagudo espinho, bradou: - caralho!!!


Respirou fundo levantou-se, sua mão sangrava, seu dedo latejava e todo pé já havia inchado. Observou tudo calmamente e murmurou é foda, o que sera que teria dito num momento tão peculiar como este, camões, augustos dos anjos, clarice lispector ou nelson rodrigues? Olhando a sua direita percebeu um riacho que corria mansamente, aproximou-se lavou os ferimentos e observou seu sangue misturar-se as aguas cristalinas.

Em estado inanimado ali permaceu por longo tempo, observado a vida que pulsava as margens do riacho, o silencio que permitia contemplar cada ação dos habitantes daquele lugar, sem se misturar. Apenas seu sangue misturou-se as aguas e disolveu-se por inteiro. Ergueu-se de subto para partir, a três passos parou e olhou para traz, viu emergir-se das aguas figura outrora jamais vista, aparentando idade avancada cabelos longos e grizalhos, barba ao mesmo tom, corpo nu e forte, emergiu somente até a cintura, duas únicas palavras proferiu e desapareu nas aguas cristalinas do riacho, Caralho! Dirião caralho.



Hannaell Mendes
05/11/2011 – 15h32min