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sábado, 30 de janeiro de 2010

A Voz Que Chama

Antes mesmo de abrir os olhos, sentiu uma brisa tocar de leve seu rosto, uma voz sussurrava suave em seus ouvidos. Seu coração disparou, o sangue ferveu dentro das veias, transpirar foi inevitável. Logo depois um calafrio... E a voz chamou mais alto.
Algo se aproximou...
Não vê, mas sente a presença, suas mãos lhe tocando; um soluço escapou-lhe e as lágrimas vieram como enxurrada escorrerá pelo rosto, não pode conte-las. Um vazio imenso foi se abrindo no peito, lembranças do passado, vieram à tona, como se fosse um filme de sua vida que passava detalhadamente. Assistiu-lhe criança inocente a brincar, seu Papai e sua Mamãe estavam lá. Pode ver-lhe crescendo, sonhando, sorrindo, descobrindo e decepcionando. Seus sonhos foram tão lindos, mas só foram sonhos. Passado a infância e adolescência, sentiu-se como um passarinho livre para voar sozinho, e voou, voou, voou... Muitas vezes caiu, mas voou novamente muito mais alto.
O filme passou até o dia atual... Estranho não narrava o momento que vivia, a voz então lhe chamou novamente. -- É hora de partir. Percebeu então o que ocorria, voltou-lhe os calafrios e algo mais, o sentimento do medo, ele não queria partir... Caiu então diante da voz e implorou que deixasse ficar. Disse a voz impiedosamente. -- Desprenda-se de tudo, agradeça o que conquistou, reconheça suas derrotas e partes comigo agora.
Nada mais lhe restava a não ser dizer: -- “Obrigado papai e mamãe por ter me conduzido até aqui, desculpe-me caso tenha sido ingrato em algum momento, irmãos me perdoem se algum dia desejei não tê-los. Estranhos que por ventura algum dia os ofendi peço desculpas. Os que me ofenderam aceito as suas, mesmo que não peçam. Amigos que me ampararam e me ajudaram a caminhar, meus sinceros agradecimentos. Minha filha querida, te amarei eternamente, desculpe-me princesa por não poder ficar mais um pouco. Minha esposa queria, desculpe-me se não consegui demonstrar o quanto te amei.
Tomado pela emoção faz seu ultimo pedido: -- Por favor, não digam a minha filha que seu pai foi um fracassado... Obrigado!”
Abraçado com a voz sentiu-se flutuar, escapando-se da vida, seu corpo cansado pode ver ficando para traz... Outras vozes se aproximaram e começaram a lhes acompanhar, algumas cantarolando outras a zombar...
Ainda olhou para traz e disse uma ultima frase: -- Se puderes um dia voltarei para contar...

Hannaell Mendes
14/06/1999 = 01:15:30
Texto publicado na Edição do Jornal Oeste Noticias, 13 de Fevereiro de 2010

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