Hoje... Pouco antes do de jejum, surpreendido pela luz que rendeu a escuridão do seu quarto, ainda em trajes de dormir abriu a janela e fitou o horizonte, deslumbrou-se com o sol ainda envolto pela nevoa da manhã, anunciando o nascimento de mais um dia.
Sentiu que queria chorar as lagrimas de uma vida instável...
Mas olhou para traz e viu uma perfeita regularidade existencial...
Por um instante chegou a se odiar...
Sentiu o ensaio de uma pequena lagrima...
Porém, imediatamente foi invadido por um agradável sentimento de realização...
Vasculhou seu passado e viu tudo intacto, nenhuma lisura...
Por outro instante odiou-se novamente...
Fez tudo de acordo com as leis – dos homens e sagradas...
Novo ensaio de uma tímida lágrima...
Mas aquela detestável e agradável sensação lhe tomará por inteiro...
Por mais que deseje não consegue se odiar...
Então tenta odiar o mundo, por não ter colocado obstáculos algum em seu caminho...
O mundo apresentou-lhe sempre perfeito...
A felicidade plena foi passiva em toda sua vida...
Possuiu tudo que desejou...
Teve tudo que planejou...
Conseguiu tudo que sonhou...
Amou e foi amado por todos... Como amigo e como amante...
Nos cerimoniais da vida sempre foi convidado e recebido com honrarias...
Procurou sempre apenas ocupar um lugar entre a multidão...
Passar despercebido...
Mas sempre foi notado...
Havia sempre um lugar reservado na primeira fila...
Desejou intensamente servir alguém...
Porem sempre foi servido...
Desejou chegar no final da festa... Servir-se sozinho com as migalhas que restaram...
Mas sempre que adentrou os salões, as festividades estavam no seu ápice...
E lá estavam... Reservadas: a melhor bebida, a melhor comida, a melhor musica ainda estava por tocar, à primeira dança com a dama mais desejada estava-lhe reservada...
Caminhou lentamente até a cozinha, sentou-se a mesa serviu-se com o café que sobrará do dia anterior. Apreciou o paladar de seu café, doce porém gelado...
Aqueceu-o com o calor de sua boca, engoliu lentamente gota a gota, levantou-se caminhou até a janela, contemplou o lindo dia que nascerá...
E chorou compulsivamente as lágrimas de sua vida instável...
Hannaell Mendes
09/12/2009 - 11h11min
Texto publicado na Edição do Jornal Oeste Notícias, 27 de Dezembro de 2009
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