Minha
alma soluçava e vomitava, embrenhei-me numa floresta densa e desconhecida,
caminhei por horas com aquela corda nas mãos, ali e acolá o revoar de um
pássaro, o gorjear de outro, um bicho assustado em disparada; assustava-me
também. A alma da floresta gritava em meus ouvidos enquanto eu penetrava cada
vez mais em suas entranhas.
Estaria
eu a feri-la?
Aos
pés daquela gigantesca arvore parei, talvez não fosse à maior que havia, mas
era enorme; conferi seu tronco e seus galhos, um a um. Testei dois ou três.
Estendi
a corda sobre o corpo nu da floresta coberto apenas por folhas e a venerei. Fiz
uma prece e cheguei a acreditar que naquele momento se faria minha redenção.
Tomei
a corda nas mãos e a beijei carinhosamente, lancei-a sobre um dos galhos, o
mais resistente que pude constatar, a floresta gemeu, um gemido tão triste!
Triste, amargo e angustiante; assim jamais ouvi.
A
alma da floresta então sussurrou em meus ouvidos.
Eu
cometi um crime.
Fui
até a cozinha e tomei uma xícara de café, pareia a soleira da porta entre a
cozinha e a copa, qual dava vistas para sala de estar. Voltei ao interior da
cozinha, peguei outra xícara de café. Na sala de estar pedi permissão, coloquei
a xícara com café à mesa e sentei. Fumei um cigarro enquanto tomava o café, peguei
outra xícara de café na cozinha, à mesa acendi outro cigarro e segui tomando a
outra xícara de café. Mais ou menos pelo meio do segundo cigarro abri a boca e
comecei a morrer, de fato eu morri, morri aos poucos a cada palavra, a cada
gole, a cada trago, diante daqueles olhares assombrados.
Morri
falando, fumando e tomando café!
Muitos
cigarros, vários cafés, tantos que a garrafa ora na cozinha acomodou-se a mesa
na sala de estar.
Eu
morri enquanto falava, e quando minha voz cessou ouvi a voz das almas que
morriam comigo dentro daqueles olhares assustados. Frágeis, almas tão frágeis
quanto a minha alma.
Estariam
elas também morrendo assim como eu?
Ressuscitei
ao ouvi-las e as almas também, mas ainda estamos todos embrenhados nessa
floresta densa e assustadora. O caminho de volta parece ser longo, não se sabe
ainda o quanto caminhamos mata a dentro.
Agora
não estou sozinho as almas caminham ao meu lado, a corda ficou para traz
deitada no seio da floresta sob a frondosa arvore.
Desculpem-me
escapou-me algumas lágrimas.
Essa
é uma história, a nossa história!
Hannaell
Mendes
27/07/2014
– 22h26min