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terça-feira, 29 de julho de 2014

Não mais Amém... Agora é obrigado.

Aprendi a rezar quando ainda era criança:
“santo anjo do senhor meu zeloso guardador, se a ti me confiou à piedade divina, sempre me rege, guarda,governa e ilumina. Amém”.
Depois de muitos anos de vida e
outras tantas preces aprendidas descobri que deveria orar,
não apenas preces pré-estabelecidas,
mas também preces indefinidas vindas de dentro do coração,
regozijos de agradecimentos,
soluços e inquietações da alma,
assim chegaríamos mais rápidos e mais próximos de Deus.
Então orei, orei até hoje pela manhã;
todas as preces decoradas e as inventadas na hora que brotaram no coração.
Já é noite e vou dormir sem orar e amanhã pela manhã quando acordar,
não vou orar também,
não porque estou de mau com Deus.
Vou ficar um tempo sem rezar e sem orar,
talvez eu não ore e nem reze nunca mais.
Mas sempre que eu sentir a presença de Deus em alguém,
alguma coisa ou em mim mesmo,
vou dizer
muito Obrigado.
 

Hannaell Mendes
27/07/2014 – 23h22min

SOLUÇO DAS ALMAS

 
Minha alma soluçava e vomitava, embrenhei-me numa floresta densa e desconhecida, caminhei por horas com aquela corda nas mãos, ali e acolá o revoar de um pássaro, o gorjear de outro, um bicho assustado em disparada; assustava-me também. A alma da floresta gritava em meus ouvidos enquanto eu penetrava cada vez mais em suas entranhas.
Estaria eu a feri-la?
Aos pés daquela gigantesca arvore parei, talvez não fosse à maior que havia, mas era enorme; conferi seu tronco e seus galhos, um a um. Testei dois ou três.
Estendi a corda sobre o corpo nu da floresta coberto apenas por folhas e a venerei. Fiz uma prece e cheguei a acreditar que naquele momento se faria minha redenção.
Tomei a corda nas mãos e a beijei carinhosamente, lancei-a sobre um dos galhos, o mais resistente que pude constatar, a floresta gemeu, um gemido tão triste! Triste, amargo e angustiante; assim jamais ouvi.
A alma da floresta então sussurrou em meus ouvidos.
Eu cometi um crime.
Fui até a cozinha e tomei uma xícara de café, pareia a soleira da porta entre a cozinha e a copa, qual dava vistas para sala de estar. Voltei ao interior da cozinha, peguei outra xícara de café. Na sala de estar pedi permissão, coloquei a xícara com café à mesa e sentei. Fumei um cigarro enquanto tomava o café, peguei outra xícara de café na cozinha, à mesa acendi outro cigarro e segui tomando a outra xícara de café. Mais ou menos pelo meio do segundo cigarro abri a boca e comecei a morrer, de fato eu morri, morri aos poucos a cada palavra, a cada gole, a cada trago, diante daqueles olhares assombrados.
Morri falando, fumando e tomando café!
Muitos cigarros, vários cafés, tantos que a garrafa ora na cozinha acomodou-se a mesa na sala de estar.
Eu morri enquanto falava, e quando minha voz cessou ouvi a voz das almas que morriam comigo dentro daqueles olhares assustados. Frágeis, almas tão frágeis quanto a minha alma.
Estariam elas também morrendo assim como eu?
Ressuscitei ao ouvi-las e as almas também, mas ainda estamos todos embrenhados nessa floresta densa e assustadora. O caminho de volta parece ser longo, não se sabe ainda o quanto caminhamos mata a dentro.
Agora não estou sozinho as almas caminham ao meu lado, a corda ficou para traz deitada no seio da floresta sob a frondosa arvore.
Desculpem-me escapou-me algumas lágrimas.
Essa é uma história, a nossa história!
 
 
Hannaell Mendes
27/07/2014 – 22h26min