Aos olhos desatentos às vezes pareço uma besta fera
olhos grandes garras afiadas, dentes pontiagudos a espreita prestes a atacar.
Aos cuidadosos que se predispõem a
observar-me um pouco mais; um brinde... Alvido como a lã de um rebanho ou como
uma vasta plantação de tecido ainda in-natura, revelo-me como sou.
Confesso que eu mesmo me distraio, e
muitas vezes me surpreendo a orar, orar em agradecimento, em beneficio ao próximo,
ao distanciamento do inimigo. Orações tão lindas e às vezes muito assustadoras,
hoje mesmo assim sem querer caminhando solo entre portas que dão passagem aos cômodos
de meu lar, percebi-me a orar... uma oração estranha, talvez assustadora, até
mesmo indecifrável para alguns, mas ao final compreendi tudo e fiquei triste...
a alvidez de minha alma pareceu-me comprometida. Eis a tal oração:
“Senhor, mestre de toda grandeza e benevolência irrefutável, socorrei
os fantasmas que me assombram,
acolhei em teu lar, amenizai a fadiga daqueles que me perseguem e contra mim proferem injurias. Abraçai-vos e beijai na
face com toda sua virtude aqueles
que rangem os dentes quando ouve meu nome, vê minha imagem, tens noticias de que avancei um degrau a mais
sem sua ajuda e ainda levando o peso árduo que
me lançaste nos ombros a titulo de obstáculo para que meu êxito não fosse atingido.
Senhor tende piedade dessas almas
ainda tão limitadas. Ocupai-as com outras vitórias mesmo que pueris para que comece a perceber o que é felicidade, mesmo que transitória, mas que as ocupe, distraia,
e meu caminho fique livre e menos tortuoso, pois
também sou teu filho.
Pai peço-lhe perdão, por outro dia
ter rezado assim: Senhor precipitai o fim deste
macabro espetáculo dirigido por tais almas carentes de amor, limitadas da perspicácia artística, que
descarta criatividade do artista que se entrega ao seu comando. Fazei baixar as cortinas, abreviando essa cena ridícula,
e que o silencio da platéia penetre como
espada afiada rasgando o peito destes maus regentes, que o sangue de seus corações dilacerados suba as
suas gargantas e façam sentir o amargo de
suas almas, sufoque-os até não mais respirar. Mas por favor, salve os artistas que padecem regidos por estas almas
falidas... Mas se não puder, foda-se”.
Foi assim que rezei naquele dia, e
rezando hoje me lembre e percebi-me pedindo perdão ao senhor pelo momento de
fraqueza. Então rezei outra oração tão pura e tão singela quanto à outra:
Pai
abençoe todos aqueles se sentem incomodados com minha existência, não precisa convencê-los de que sou bom
e não estou para competir, basta ocupá-los de tal
forma que não encontrem tempo para lembrar-se de mim. E quando por acaso nos encontrar novamente esteja tão
felizes que a inveja que sentem hoje já tenha morrido e o meu sucesso não os incomode mais. Amem...
Hannaell
Mendes
04/07/2013
– 20h01min